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Conheça o Ligue 180, que em 2015 recebeu 179 relatos por dia de violência contra a mulher

À primeira vista, é um serviço de telefonia como qualquer um: pessoas sentadas, computadores, chamadas de telefones e vários atendentes. Vários não, várias. São apenas atendentes mulheres, todas às voltas com o mesmo problema: casos de violência contra mulheres.

Duzentas e cinquenta atendentes se revezam para atender ligações 24 horas por dia, todos os dias da semana, serviço disponível em todos os Estados. Elas dão orientações, esclarecem dúvidas e podem registrar denúncias de agressões, tudo de forma sigilosa e segura.

É a Central de Atendimento à Mulher, popular Ligue 180, o disque-denúncia para casos de violência contra a mulher da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM) do Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos.

Ane Cruz, coordenadora-geral, explica que as atendentes são capacitadas para ajudar de todas as formas a mulher que esteja em situação de violência e que o atendimento pode ser de informação, orientação ou registro da denúncia. O Ligue 180 trabalha de forma conjunta com a rede de atendimento do Brasil, formada por serviços municipais e estaduais.

As ligações são, muitas vezes, responsáveis por evitar tragédias. “Temos atendentes que ficam por horas com a mulher no telefone até a chegada da polícia, e a única coisa que fizemos foi orientá-la a ligar para o 190. Nosso serviço tem que ser de excelência porque ele salva vidas”, relata.

Emergências e denúncias

Em casos de emergências, a primeira orientação da Central do Ligue 180 é o socorro. “Muitas pessoas ligam com situações urgentes, como um marido nervoso com uma arma”, relata Ane. “Queremos que alguém chegue e impeça esse camarada que está colocando sua vida em perigo. Nós orientamos a ligar para o 190 ou, se for o caso, outro serviço de emergência”. Outros casos, como abuso infantil, são encaminhados para o Disque 100 – Disque Direitos Humanos.

Diante de um relato de violência, as atendentes sempre orientam o registro de um Boletim de Ocorrência, mas elas também podem registrar a denúncia pela Central do Ligue 180, se autorizada pela denunciante. Depois de anotada, a queixa segue para os Ministérios Públicos, Secretarias de Segurança Pública e Corregedorias dos estados competentes. “Desde março de 2014, nós fazemos o encaminhamento das denúncias para esse grupo de órgãos. Eles vão receber a denúncia da nossa Central e são os responsáveis por investigar”, conta.

Orientações

Nem sempre as ligações para o 180 são para relatar casos de violência. Às vezes a chamada pode ser para procurar instruções sobre serviços, como a forma de registrar um Boletim de Ocorrência (B.O.) ou divórcio, por exemplo. Mesmo nesses casos, as atendentes fazem a orientação e o encaminhamento.

“Nossa profissional irá pesquisar na cidade onde aquela mulher mora quais são os serviços que estão disponíveis e informar onde ela pode encontrá-los”, diz. A orientação é prerencialmente pelos atendimentos especializados, como as Delegacias das Mulheres, onde a mulher pode registrar o B.O., e a Casa da Mulher Brasileira, onde é possível encontrar serviços como a Defensoria Pública para realizar o divórcio.

O mesmo vale para mulheres que procuram as Casas de Abrigo, espaço para manter as vítimas de violência doméstica em segurança. “Se a mulher liga e fala ‘eu preciso sair de casa porque se não ele vai me matar’, nós indicamos onde ela pode buscar, na sua cidade, o serviço de abrigo por meio das delegacias ou dos Centros de Referência de Assistência Social”, relata.

Mulheres de outros países também ligam para receber orientações sobre como proceder em casos de separação e tráfico de mulheres – em 2015, o Brasil ampliou o serviço para 16 países, para que mulheres brasileiras que estão no exterior também possam contatar a central. Segundo Ane, o primeiro encaminhamento é procurar o consulado brasileiro no local, mas o 180 também passa informações sobre a legislação do país.

Informações

Há também os pedidos de informação, como explicações sobre a Lei 11.340, mais conhecida como Lei Maria da Penha, e campanhas, como o Outubro Rosa. “Nossas atendentes estão capacitadas para atender outras demandas que também estejam dentro da conjuntura do universo das mulheres”.

Ligações de terceiros

A coordenadora conta que, segundo o balanço de atedimentos do primeiro semestre de 2015, tem aumentado o número de pessoas conhecidas das vítimas que ligam para a Central de Antedimento à Mulher para relatar casos de violência contra amigas, irmãs, vizinhas.

Para ela, isso demonstra um aumento da consicência a respeito da denúncia por parte de todos, inclusive de quem convive com a mulher em situação de violência. “Ouvimos historicamente que ‘em briga de marido e mulher não se mete a colher’. Mas se mete, sim. A família sofre junto com a mulher agredida”.

Não só os amigos ligam para relatar as violências, mas também os filhos e filhas. “Ao assistir a mãe ser violentada, os filhos também sofrem. Recebemos ligações desse tipo e as atendentes são capacitadas para ter uma escuta fina e perceber o que não é trote, mas que a criança pode estar vivenciando isso em casa”, conta.

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