Mandala da Prosperidade: esquema financeiro usa discurso feminista para enganar mulheres

Intenções e boa fé humanas devem ser sempre questionadas quando o assunto é dinheiro. Recentemente, um movimento conhecido como Mandala da Prosperidade tem ganhado força no Brasil.

Já bastante difundido nos Estados Unidos, na Europa e na América Latina, o movimento se vende com uma proposta feminista. Por isso, muitas das vezes consegue “conquistar” mulheres bem intencionadas, interessadas em se ajudar. Em outros países onde é mais conhecida, a prática da Mandala da Prosperidade tem recebido diversas denúncias por sua falsa moralidade e pelo golpe em diversas mulheres.

Para não se deixar seduzir pelo esquema, conheça um pouco mais da ideia.

Mandala da Prosperidade: o uso indevido do feminismo para lucro pessoal

O esquema levanta suspeitas logo na primeira fase, se explicado sem usar a vertente feminista do projeto. Basicamente, você deve investir 1.700 reais para, posteriormente, ganhar oito vezes o valor. No facebook, podemos encontrar diversas páginas e grupos sobre o assunto:

mandala-agambiarra

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Porém, o projeto é apresentado de forma idealizada. O grupo, composto exclusivamente por mulheres, busca ajudar suas “irmãs” a lutar contra o machismo do dia a dia. Ao investir determinada quantia de dinheiro, você pode ajudar uma mulher que não consegue o sucesso monetário pelo já constatado fato de que mulheres ganham muito menos que homens.

Esse fato de uma mulher oferecer suporte para outra é conhecido como sororidade, termo muito disseminado dentro da política feminista. Superficialmente, a Mandala seria algo nessa linha, mas ao analisar a estrutura do esquema, percebemos que é uma atitude bastante egoísta.


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O ciclo que lembra o triângulo

A ideia crua da Mandala da Espiritualidade é a mesma que a da pirâmide financeira, esquema já proibido no Brasil. Com um novo nome — Mandala da Prosperidade ou Tear da Abundância —, a maracutaia ganhou um novo disfarce.

Conheça o esquema detalhado dos “investimentos” e “lucros” do Tear:

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As etapas

Na figura 1, temos o ciclo inicial do projeto. A mulher representada pela letra A será a beneficiada pelas doações de I, J, K, L, M, N, O e P. As outas letras não fazem doações e nem recebem. Logo após esta fase, o ciclo se divide e forma dois novos.

Desta vez, B e C estão no centro e, dessa maneira, vão receber os investimentos.  I, J, K, L, M, N, O e P que antes financiaram A, agora devem chamar duas mulheres cada para compor o novo ciclo. Na próxima fase, B e C receberão os 1.700 reais investidos multiplicados por oito.

A grande questão é que, para que todas recebessem os lucros, a população mundial deveria ser infinita. Caso o grupo não consiga trazer oito novas participantes, a linhagem se quebra e todas são prejudicadas, exceto as “criadoras”, que até então só receberam.

Teoricamente, você deveria chamar uma amiga sua para que ela participasse dos lucros, porém, “chamar uma amiga” é um ato extremamente egoísta. O ato de convidar alguém é fator primordial para que seu lucro aconteça, depois disso, você sai do ciclo e a pessoa que você convidou deve se virar para conseguir outras mulheres para que não saia no prejuízo.

Segundo dados do site Nexo, uma análise feita pela consultora em sustentabilidade Amber Bieg, que foi convidada para o “Mandala”, concluiu que depois da terceira fase do esquema, apenas 12% das mulheres envolvidas no sistema lucram — os outros 88% perdem definitivamente o dinheiro que doarem e não recebem o valor prometido.

A grande maioria das mulheres que se prejudicam são aquelas que não têm muita aptidão para “vender o peixe”, ou então são as mais tímidas.

O público alvo

Além de aceitar somente mulheres, a Tear indica que você chame mulheres bem sucedidas para entrar para o “clube”. Porém, todas são bem-vindas, inclusive as que não tem dinheiro algum para investir. Quando esse é o caso, as outras são obrigadas a emprestar o dinheiro para que ela possa entrar no esquema.

Outro quesito para a seleção é a que a mulher já tenha alguma ligação com a espiritualidade. As que seguem filosofias orientais ou pagãs, como hinduismo, wicca, yoga e hare krishna, entre outros exemplos, são mais suscetíveis a aceitar a ideia de comunidade e apoio a outras mulheres.

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