Está tudo preparado para o público de Manaus conhecer a história de TK, o pássaro sem asas de um universo paralelo interplanetário. Com apenas cinco dias de vida, TK aprende com as dores o real significado da pergunta: “Qual a coisa mais importante de sua vida?”. O espetáculo “Menino TK”, do Grupo Jurubebas de Teatro, será apresentado nos dias 23 e 24 de maio, sempre às 19h, no Teatro da Instalação, no Centro de Manaus.
Contemplado pelo Programa Espaço Aberto, da Secretaria de Estado de Cultura do Amazonas (SEC), a trama propõe incursões num universo imagético, mas não tão diferente do que vivemos. A morte, o abandono, a traição e o recomeço são situações comuns aos humanos e que na peça trazem outros elementos de análise subjetiva. Os personagens trazem à tona uma questão pouco discutida, a inclusão de pessoas com algum tipo de deficiência.
O protagonista é um pássaro sem asas que passa a ver a vida a partir de suas limitações, entendendo que elas podem e devem ser vistas de forma criativa e autêntica, buscando sempre quebrar barreiras do convencional. TK é um filhote que tenta encontrar o seu lugar no mundo.
A encenação se passa num universo paralelo onde pássaros sobrevoam planetas repletos de outros seres monstruosos. No espetáculo, três aves da espécie Creópida dialogam sobre a vida e o sonho não realizado de TK: voar. Laika, a cadela cosmonauta, aparece como a grande salvadora, mas nem tudo é como se parece. A obra tem classificação indicativa de 10 anos. “Buscamos dentro deste processo entender quais limitações todos temos e de que forma poderíamos ressignificar-las e criar a partir disso um ponto de vista diferente”, explica Felipe Maya Jatobá, que assina a direção, a dramaturgia e os figurinos do espetáculo.
Ainda segundo diretor, o drama futurista busca romper com o estigma do teatro infantil voltado para o entretenimento e traz reflexões sobre os assuntos que aborda. “Maria Clara Machado dizia que escrevia para crianças tal como escrevia para os adultos, sem distinção, dessa forma o grupo apresenta um espetáculo sobre a vida como ela é, mas com ações e enredos muito mais lúdicos e divertidos que possam fazer crianças e adultos dialogarem de igual para igual”.
Criação
O processo nasceu a partir do trabalho de corporeidade como criação estética e suas possibilidades poéticas numa dimensão que abrange o conceito da biomecânica, do russo Vsevolod Meyerhold, em estágio avançado de pesquisa cênica. Os princípios biomecânicos seguem a linha da mecânica da vida no corpo animal que em “Menino TK” são um pássaro e um cachorro.
Executado pela ditadura Stalinista, Meyerhold fez parte do Teatro de Arte de Moscou e se opôs à metodologia Stanislavskiana garantindo sua estética própria e não naturalista. A partir dessas características, o Grupo Jurubebas de Teatro trouxe ludicidade ao processo de criação, na brincadeira a criança reelabora suas vivências cotidianas e o teatro tem a capacidade de transformar o produto da imaginação em natureza simbólica. “Estamos lidando com a criação a partir do corpo do ator-criador e os signos propostos por eles no tempo histórico presente”, finaliza o diretor.