Equívocos de autoridades, bombas de efeito moral e armas marcam ação de retirada de invasores da ‘Cidade das Luzes’

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A movimentação policial começou logo nas primeiras horas da manhã. Até o momento, a Vara de Meio Ambiente e Questões Agrárias (VEMAQA) do Tribunal de Justiça do Estado (TJ-AM), que havia determinado a retirada dos invasores, e a Defensoria Pública Estadual (DPE-AM), que defendia as permanência deles argumentando a ausência de uma solução para não deixar os ocupantes da invasão ao relento, e outras autoridades envolvidas, pareciam não se entender.

Uma mega estrutura, que, entre outros servidores públicos, utilizou cerca de 400 policiais militares, cumpriu, pelo menos em parte, a Ação Civil Pública (ACP) impetrada pelo município de Manaus, que tinha como objetivo retirar mais de 4 mil famílias de uma área de preservação ambiental invadida no bairro Tarumã, zona Oeste da capital, conhecida como ‘Cidade das Luzes’.

De acordo com o coordenador do Gabinete de Gestão Integrada (GGI), da Secretaria da Segurança Pública do Estado (SSP-AM), delegado Frederico Mendes, a área foi financiada pelo crime organizado. Para o sistema de segurança, a área vinha se tornando um verdadeiro território do crime, que abrigava foras da lei e chegava até mesmo a cobrar para permitir a ocupação de espaços e garantir ‘segurança’ no local.

Conforme as horas passavam, o clima na área invadida ficava cada vez mais tenso entre a polícia e os invasores, que insistiam em permanecer no local. Situação, por exemplo, da autônoma Rosilane de Almeida. 

A Coordenadora da União Nacional por Moradia Popular (UNMP), Cristiane Teles, que acompanhou a ação de retirada, apelou por mais prazo para evitar a saída das famílias.

Por volta das 9 h, a movimentação policial ficou mais intensa com a chegada do Grupamento Aéreo (GRAER) e de policiais do Comando de Operações Especiais (COE), Cavalaria, Canil e Tropa de Choque da Polícia Militar (PM-AM), que iniciaram a desocupação. Os policiais usaram armamento não letal e bombas de efeito moral.

Para tentar dificultar a entrada da PM, barricadas foram incendiadas. Mesmo assim, os policiais continuaram avançando e obrigando o recuo dos invasores. Não demorou muito para que os primeiros deixassem o local. Eles faziam questão de levar todos os utensílios domésticos. Alguns questionaram a ação da polícia, como Claudemir Falcão e Tiago Augusto.

Segundo o presidente da Comissão dos Direitos Humanos da Ordem dos Advogados Brasil – Seccional Amazonas (OAB-AM), Epitácio Almeida, qualquer excesso será apurado.

Segundo o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), durante a ação, houve o registro de apenas uma pessoa teria passado mal. Ela não chegou a ser socorrida porque o SAMU teve dificuldades de chegar ao local do atendimento.      

No início da tarde, depois da retirada de parte dos invasores da ‘Cidade das Luzes’, a Justiça Amazonense suspendeu a Ação Civil Pública, até que o município indique qual é a área de abrangência da Área de Proteção Ambiental (APA).

Uma confusão que pegou autoridades policiais de surpresa. Depois do tumulto e retirada à força de parte dos invasores da área, tudo ficou tranquilo, na parte da tarde. Alguns invasores chegaram até mesmo a voltar para suas casas.

Outros não tiveram tanta sorte. Para eles, ficou apenas a imagem da destruição. Todo o início da “Cidade das Luzes’ foi destruído. São dezenas de casas. Muita gente resolveu voltar e reconstruir aquilo que perdeu. Mas não se sabe até quando a paz vai voltar a reinar na área.

No início da tarde, a ACP que motivou a retirada dos invasores foi suspensa pela Justiça Estadual. De acordo com o juiz da Vara do Meio Ambiente e Questões Agrárias, Adalberto Carim Antônio, houve uma interpretação errada sobre a decisão dele.

A retirada de invasores se daria apenas na área denominada de Preservação Ambiental (APA) e não em toda a invasão. Mas havia outro impasse. Segundo ele, na ação, a prefeitura não indicou qual era a área de abrangência da APA. Por isso, a suspensão temporária da ação para remoção dos invasores.

Hélder Dutra tinha acabado de construir a casa de alvenaria, na ‘Cidade das Luzes’. Pressionado pela ação policial, saiu e, quando voltou, encontrou tudo destruído. Mas, se depender dele, vai construir tudo de novo.

 

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