Após morte de rapaz infectado em Manaus, FVS-AM monta estratégia para investigar casos de encefalite viral na capital e Interior do Amazonas

Após a morte de um dos pacientes infectados, de 17 anos, na última quinta-feira (16/11), no Pronto Socorro 28 de Agosto, em Manaus, a Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-AM), órgão vinculado à Secretaria de Estado da Saúde (Susam), enviou equipes para o município de Barcelos, a 401 quilômetros de Manaus, onde irá investigar os três casos, até o momento, de encefalite viral que ocorreram na comunidade de Tapira, no rio Unini.

O caso fatal é oriundo de Barcelos, de onde a irmã dele, uma criança de 10 anos, do sexo feminino, e um homem de 44 anos, da mesma comunidade, também vieram a capital, e estão internados na Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD), desde sexta-feira (17). A equipe da VFS saiu de Manaus nesse domingo (19) para Barcelos, para juntar-se aos profissionais de saúde do município.

Na capital do Estado, uma outra equipe, coordenada pela diretora técnica da instituição, Rosemary Costa Pinto,  e formada por técnicos  do Centro de Informações Estratégicas de Saúde (CIEVS/FVS-AM), do Centro de Referência de Imunobiológicos Especiais (CRIE/FMT-HVD) e Laboratório Central de Saúde Pública (LACEN/FVS-AM), trabalha as estratégias complementares e de apoio à investigação de campo. “Estamos com toda nossa equipe mobilizada. Nossa missão é atuar em cima dos resultados coletados na localidade, principalmente focando na busca de novos casos, na prevenção e profilaxia”, informa Rosemary.

De acordo com o médico infectologista da FMT-HVD, Antonio Magela, o estado dos pacientes não apresentou evolução nas últimas horas. “O estado da menina é grave. Ela está em coma, mas estável, ou seja, não houve evolução dos sintomas. Já o homem está lúcido, orientado, também sem apresentar alterações de quadro clínico desde que chegou”, disse.

Segundo Magela, ainda é cedo para apontar as causas da infecção apresentada pelos pacientes. Uma das hipóteses é para a raiva humana, com base na evolução dos sintomas e o histórico dos pacientes para mordida de morcego, mas a investigação trabalha com outras hipóteses de infecção por arbovirus comuns em área de floresta.

 “A investigação não está focada só na raiva, estamos fazendo uma abordagem de uma encefalite viral e algum vírus que aparecer vai ser identificado através dos exames. Como a floresta amazônica é o maior reservatório de arbovirus transmitidos por insetos, então tem que se pensar em todo vírus que possa causar o mesmo quadro clínico de encefalite”, revelou Magela.

Foram coletadas amostras biológicas dos três pacientes – sangue, saliva e liquor. O material está sendo enviado para o Instituto Evandro Chagas, em Belém (PA), que é o laboratório credenciado pelo Ministério da Saúde, na Região Norte e, posteriormente, será feito diagnóstico molecular no Instituto Pasteur, em São Paulo, com previsão de resultados em vinte dias.

“Só poderemos falar em raiva depois que tivermos os resultados dos exames e não podemos descartar outras causas de encefalite. Agora, diante de um paciente com uma encefalite rapidamente progressiva, inclusive evoluindo para óbito, no caso do adolescente, e que tenha história prévia de contato com morcego, a primeira hipótese é a raiva, mas a confirmação somente será possível quando tivermos em mãos o resultado dos exames de laboratório, que são muito específicos, complexos e demandam tempo para conclusão. Mas não esperamos o resultado para tratar o paciente”, esclareceu o infectologista.

O trabalho da FVS-AM na reserva está focado na investigação, busca ativa de novos casos, profilaxia com vacinação e soro para quem foi agredido por morcego, além de vacinação de cães e gatos, captura e controle dos morcegos hematófagos (que se alimentam de sangue) e de animais domésticos suspeitos, coleta de amostras e ações de educação em saúde.

Foram disponibilizadas para o município cerca 750 doses de soroterápicos, incluindo 250 vacinas antirrábicas humanas, 250 vacinas antirrábicas caninas e 250 soros antirrábicos, além de 100 mosquiteiros impregnados e 200 frascos de repelentes.

Monitoramento sistemático – Desde o ano de 2002, a gerência de zoonose da FVS-AM realiza o monitoramento de raiva silvestre com captura seletiva de morcegos hematófagos em 37 municípios do Estado, onde são notificadas agressões humanas por espécie de animais. De 2002 a 2016, foram registradas 766 notificações de agressão em humanos por morcegos. Até o presente momento, não há positividade do vírus rábico nos morcegos capturados.

Em setembro de  2016, a FVS-AM, em conjunto com a equipe de zoonose de Semsa-Barcelos, realizou  as atividades na calha do rio Unini, incluindo a comunidade de Tapira. Na ocasião, foram coletados morcegos, sem positividade para o vírus da raiva e realizados tratamentos por meio de pasta vampiricida para o controle da população de quirópteros hematófagos (Desmodus rotundus), além de ações de orientação aos moradores e medidas educativas. Foi feita ainda a  vacinação de 100% de cães e gatos encontrados na comunidade. Em fevereiro de 2017, a equipe da FVS-AM, juntamente com a Semsa-Barcelos, retornou à área e visitou as comunidades de Largos da Pedras e Patauá.

Para a profilaxia da raiva humana, a FVS-AM abastece as secretarias municipais de saúde para o atendimento dos pacientes agredidos, capacita os profissionais de saúde para o atendimento a esses pacientes, sendo de responsabilidade dos municípios o regaste, encaminhamento e acompanhamento dos mesmos ao tratamento preventivo contra a raiva, principalmente, em caso de agressões por morcegos hematófagos.

A FVS-AM também é responsável pela realização de treinamento das secretarias municipais de saúde e atua de forma complementar, auxiliando os municípios nas ações de controle e prevenção. No período de 21 a 24 de novembro, está programado um treinamento de prevenção da raiva humana para profissionais de saúde de 15 municípios prioritários.

Protocolo Ministério da Saúde  – O protocolo do Ministério da Saúde não prevê programa de vacinação antirrábica para a população em geral. A partir do momento em que a pessoa é agredida por animais domésticos, silvestres ou por morcegos, o Ministério da Saúde recomenda o atendimento em Unidade Básica de Saúde para a realização do esquema soro vacinal profilático, sob responsabilidade das secretarias municipais de saúde.

Também é importante vacinar cães, gatos e outros animais domésticos durante as campanhas contra a raiva animal, que são realizadas anualmente nas áreas urbanas e rurais dos municípios. Se o animal estiver imune, não poderá infectar a população. No caso de animais silvestres, como os morcegos, também não é possível realizar vacinação.

O Programa de Imunização Estadual da FVS-AM (PNI-AM) dispensa de forma rotineira as vacinas e soros antirrábicas e humanas, de acordo com as necessidades definidas pelos PNI’s municipais. Todos os pedidos dos municípios foram atendidos, sendo de responsabilidades das secretarias municipais de saúde, tanto a vacinação em humanos quanto em animais.

Em 2016, a meta era vacinar 4.272 cães e 1.510 gatos estimados no município de Barcelos. Desses, foram vacinados 105%. Em 2017, a meta é vacinar 4.272 cães e 1.592 gatos, até o final de novembro de 2017. A campanha de vacinação no rio Unini ainda encontra-se em curso.

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